Dia desses eu doei 15 cm do meu
cabelo para o projeto @rapunzelsolidaria. Eles fazem perucas para pessoas com
câncer, a partir de cabelos doados por outras pessoas. Tive que aguentar minha
cabeleira de vassoura um tempão, louca pra cortar logo, mas como eles só aceitam
doações com, no mínimo, 15 cm, esperei. Fui pra cabeleireira muito feliz,
voltei descabelada e mais feliz ainda. Eu doo meu tempo para as capturas, mas
fora isso, não posso doar nada: dinheiro, porque não tenho; sangue, medula e
(acho que) órgãos, porque tive febre púrpura quando criança e doenças autoimunes
nos riscam das listas de doadores. Fiquei arrasada, inclusive, o dia que soube
que não doaria minha medula. Tinha o sonho secreto de poder, algum dia, salvar
a vida de alguém. Então doei o cabelo e, do fundo do coração, espero que ele
sirva para o propósito. Aí me perguntaram no trabalho se eu ia doar o cabelo e
ouvi um: “mas é muito pouquinho” – porque era gente, uma merreca de cabelo,
fininho, ralinho e, se comparado com as cabeleiras que estão na página do
projeto, não daria pra nada. E eu fiquei um pouco triste com o comentário, não
por minha doação ser pequena, mas pelo pensamento em si; fiquei triste pela
pessoa. Imaginando que ela, talvez, por achar que é pouco, perca a chance de
ajudar muito.
Aí, fui fazer uma apresentação da
Operação Gato de Rua num evento de gatinhos de raça quando, ao falar de nossos
números, percebi que não progredimos tanto quando eu gostaria no último ano. Queria
ter chegado a, pelo menos, 500 gatos castrados em 2015. Mas, com muito suor e
muito custo, conseguimos 329. Não é muito, se comparamos com os mais de mil de
outros projetos semelhantes. Fiquei meio envergonhada de ter um número tão
baixo se comparado aos dos outros. Porque eu estava comparando. Senti a vergonha
que não senti quando doei o pouquinho de cabelo. E fiquei matutando o quão
esquisitos somos nós, seres humanos, que, numa mesma semana, sentimos orgulho
de uma merreca e vergonha de outra.
Então me lembrei da história
daquele garoto que, sem vergonha nenhuma, ofereceu seus cinco pães e dois
peixes à multidão faminta. Ofereceu com amor. E seus pães e peixes alimentaram
a multidão e, deles, ainda sobraram doze cestos cheios. (Pra quem não conhece a
parábola, está na Bíblia, em Mateus 14:13-21; Marcos 6:31-44; Lucas 9:10-17 e
João 6:5-15). Porque quando dois não têm nada, dois não têm nada. Mas, se um
tem algo e o divide, os dois têm algo. A doação, seja de seu tempo, seu
coração, seu dinheiro, suas palavras, seu colo, seu sorriso, suas roupas e
sapatos que não têm mais serventia, seu alimento, de si mesmo é o que nos faz
viver o amor. Porque amar é fazer o outro feliz. E ficar feliz em ver o outro feliz.
As famigeradas redes sociais
estão aí, nos lembrando, a cada dia das tantas crueldades do ser humano pelo
mundo, mas, ao mesmo tempo, nos mostrando coisas lindas como a história do cão
Cafu ( viu? https://www.facebook.com/Padaria-Borasca-460964320597701/?fref=ts);
do Jubinha (viu também? http://www.olharanimal.org/solidariedade/9959-conheca-jubinha-o-cachorro-que-dormiu-no-colo-do-papai-noel-e-encantou-a-internet).
Pãezinhos e peixinhos modestos, espalhados pelo mundo. Coisas simples, atitudes
mínimas, que fazem grande diferença.
Dezembro é mês de abandono de
animais em nossa região. É tempo de receber dezenas de telefonemas e mensagens
com : “encontrei um gatinho ( cachorrinho )
mas não posso ficar, pra onde levo? “. E quero dizer que acolher um
animal da rua não é tão difícil quanto se pensa. A não ser que você seja uma
daquelas pessoas que já têm 20 (30, 18, 10) animais, porque pessoas acham que a
responsabilidade é sua, mas não delas. Porque quando sobra pra um só, aí, sim,
a coisa complica.
Dezembro é tempo de se parar pra pensar nas
atitudes de pessoas que se dizem do bem e, na época do nascimento do próprio Amor,
jogam seus animais nas ruas, como se fossem lixo. É época de torcer para chegar
logo o dia 18, pra gente poder tirar férias e fingir que esse tipo de problema
não existe. E é época de pensar que, mais uma vez, chegou o fim do ano e eu não
sei se melhorei como deveria. Porque eu sempre penso que preciso melhorar, mas
só paro pra refletir na época do Natal e da Páscoa.
Então, pra encerrar um ano, que
aparentemente, está judiando de todo mundo, quero resgatar, em primeiro lugar,
no meu coração e, através deste post, em muitos outros, o mesmo sentimento do
garoto dos pães. Porque a doação, com amor, do meu pouco, juntamente com a
doação, com amor, do seu pouco, vai fazer, com amor um muito e esse muito pode
mudar, se não o mundo, pelo menos a vida de alguém.
Desejo que nossos corações possam
se abrir ao amor desinteressado. Que cada pessoa possa se dedicar a uma causa,
seja ela qual for e se doe ao outro. Tenha esse outro duas ou quatro pernas (ou
nenhuma, mas que respire e sinta, que seja vivo). Que possamos fazer em 2016,
um pouquinho mais do que fizemos em 2015. Que todo mundo que me perguntou para
onde levar o gatinho abandonado que encontrou, sinta-se imediatamente aberto a
acolher e fazer sua parte, porque o problema é de todos nós e a solução também está
nas mãos de todos nós. Porque se cada pessoa oferecer um cantinho e acolhimento
até uma adoção responsável com castração feita, um dia, o abandono vai acabar.
E, já que sonhar ainda não custa nada, desejo
que, um dia, eu possa fazer um post de “muito obrigada por tudo, mas
precisamos encerrar as atividades da Operação Gato de Rua, porque não existem
mais gatos sem lar na cidade de Blumenau”. Se todo mundo se unir, a gente chega
lá.
Um feliz Natal a todo mundo. E
que venha 2016, porque 2015 já deu.
Beijos no coração.
Maria Cecília Quideroli
Operação Gato de Rua