sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O estranho "serumano" - Parte I

Hoje quero escrever um pouco sobre os seres humanos. Aqueles que fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Um Deus que fez questão de se tornar um de nós para nos mostrar o quanto nos ama.

Teoricamente deveríamos ser aqueles que prezam pela manutenção das outras espécies, mas, na prática, somos os maiores predadores da natureza. Claro que existem os que fazem a diferença e aquela garota que faz um blog contando o que não está bom na escola dela e consegue mudanças significativas se enquadra nesses aí. Muitos outros fazem, fizeram e farão diferença. Entende que fazer um pouco é melhor do que não fazer nada.

Quero, porém, falar de maneira especial daquele "serumano" que gosta de criticar quem faz, mas não tira o próprio traseiro da cadeira. Fica achando que alguém tem que fazer alguma coisa, desde que ele não precise mexer um dedo nem perder a novela. E critica. E ofende em rede social, esbraveja aos quatro ventos. Mas não faz nada. 

Quem faz qualquer tipo de trabalho voluntário conhece alguns desses. Quem abraçou a causa dos animais conhece alguns específicos, como aqueles que acham que não dá pra cuidar de cachorro atropelado, porque tem tanta criança precisando de ajuda. Essas pessoas, geralmente, não ajudam as crianças abandonadas também. Aliás, não ajudam ninguém. 

Gostaria muito que as pessoas entendessem de uma vez por todas que:

- tem muita criança carente precisando de ajuda sim. Mas tem muita gente que as ajuda, ONGs específicas, formadas por pessoas que simpatizam com a causa. Como também tem os defensores da Floresta Amazônica, do fim da homofobia, dos idosos maltratados, dos ouriços caixeiros. A questão é cada um deve se dedicar a uma causa com a qual se identifica. E o fato de alguns muitos preferirem resgatar animais e  procurar seu bem estar não faz com que a situação dos outros que não têm voz mude. Nem para pior, nem para melhor. 

- voluntário faz porque quer, não porque precisa. Essa história de "você é da ONG então precisa ir lá socorrer o cão que foi atropelado e está há horas agonizando na estrada" não existe. Pelo menos não deveria existir. Voluntário geralmente não é milionário (eu não sou e não conheço nenhum que seja), precisa trabalhar e ganhar o pão de cada dia. Geralmente trabalha em horário comercial, como você, e não pode sair do expediente para socorrer o pobre cão. Voluntário também vai precisar se deslocar, pagar pelo atendimento do cão do próprio bolso, se responsabilizar pela vida que socorreu. Igual a qualquer pessoa que se disponha a fazer isso. Passar por um animal atropelado, enviar um recado via facebook ou e-mail para uma ONG dizendo " passei lá, o cão está bem mal, mas eu não parei porque minha vó tem caspa no joelho", é simplesmente covardia. Crueldade.Omissão. Entendo que as pessoas não socorrem animais porque veterinário custa caro. Mas a ONG daqui de Blumenau, por exemplo, tem parceiros que dão desconto quando o animal não tem dono.  É só conversar com o profissional. Se ele amar os animais, vai entender. Então essa desculpa já cai por terra. 

- o problema dos animais sem dono é de todos, não somente de quem resolveu dedicar um pouco de seu tempo livre para esta causa. Enquanto não tivermos governos que realmente se importem com a questão animal, o problema é de todos nós. Claro que é mais fácil jogar a batata quente para o outro, mas, se cada um fizesse um pouco, não ficaria pesado para ninguém. E, provavelmente, mais animais seriam beneficiados. E se eu posso oferecer um pouco de água e ração para um cachorro ou gato faminto, todo mundo pode. Tenho uma sugestão para quem não faz nada gosta de criticar quem faz: receba os e-mails de uma ONG durante uma semana, sinta na pele o sufoco que é e depois me diga se você poderia fazer diferente. E se acha que poderia, vá lá e faça.

Agora vou contar uma coisa que vai surpreender MUITAS pessoas, é pior do que saber que é sua mãe que compra seu presente de Natal.
ONG não tem grana, meu povo. É uma correria ficar procurando parceria, rifa, venda de produtos ( para os quais foi necessário gastar dinheiro ), uma luta diária para tentar dar conta de todas as despesas com clínicas no fim do mês. E, muitas vezes, fechar no vermelho. Castrações que deixam de acontecer por falta de caixa e eutanásias que precisam acontecer por falta de grana. Imagine que se cada cidadão se comprometesse a pagar uma castração por mês, ou a cada dois meses, como desafogariam as ONGs e sobraria mais verba para cuidar dos atropelados e maltratados, que são muitos. 

E isso, falando das ONGs que resgatam para doar, ou pelo menos procurar um novo lar para animais abandonados e maltratados. Quando eu falo que não resgato meus bichanos, que só os castro e devolvo ao local, vejo, muitas vezes, caras que me lembram a sala dos espelhos do parque de diversões. Já entrou em uma? É queixo que cai até o chão, olho que se arregala até o teto. E comentários que não deveriam ser feitos como: " que absurdo você castrar os gatos; eu me solidarizo com eles, me coloco no lugar deles - que dor!"  Até acho que seria bom se alguém se dispusesse a sair por aí com uma "machoeira", fazendo armadilha para pegar safado e cortar fora o que ele acha que tem de mais precioso. Mas, até onde sei, isso não é um risco iminente para seres masculinos da espécie humana, então, caros, não precisam se preocupar. E pensem que, castrando um gato macho, MILHÕES de gatinhos NÃO nascerão, NÃO passarão fome nem frio nem necessidades. Aproveitem e me ajudem a pagar umas castrações. Senão eu corto o seu também!

Também já ouvi: " mas por que você castra um gato de rua se não vai ficar com ele?" - Essa é simples e fácil de responder. Porque já estou cansada de ver tanto gato judiado perambulando pela cidade, sem ter onde dormir direito quando chove, sem refeição garantida, sem carinho. Castrar e devolver é a maneira mais eficaz de combater o abandono animal. Bom seria se eu conseguisse lar para aqueles que são mais mansinhos, mas não tem, então nem tento. Mesmo porquê há uma teoria de uma conhecedora do assunto residente em São Luiz, gatos brotam do asfalto.

E, acho que a pior é: "tenho um ( ou dois, três, quatro ) gatos que peguei da rua, cuido deles e amo como se fossem meus filhos. Você não quer castrar meus gatos?" Não, não quero.Vaza e me deixa em paz.

A solução para o problema do abandono de animais não é muito difícil, só precisa de um pouco de boa vontade em mudar o padrão de comportamento. Mudar a consciência é uma coisa mais complicada, requer tempo.  O serumano é bem complicadinhos, cabecinha dura. Veja se não tenho razão quando digo que não precisa de muito.

 No que diz respeito aos cães: 
- fechar o portão de casa, não deixando o animal passear sozinho pelas ruas: evita roubos, brigas, atropelamento, envenenamentos. Isso é muito típico aqui em Blumenau, mas em Araçatuba o pessoal usava mais a guia.
- castrar o animal, macho ou fêmea, porque já tem filhote suficiente por aí procurando lar; não precisamos dos filhotes dos seus cachorros. Evita também que o macho fuja de casa para procurar fêmea no cio pela vizinhança. 

Quanto aos gatos:
- castrar o próprio bichano e aproveitar para ter o silêncio de um gato tranquilo que não vai à loucura na época do cio.
- TELAR SUA JANELA - não, o gato não morre se ficar o tempo todo dentro de casa, protegido. Ele morre se for atropelado na rua, ou se algum idiota der chumbinho para ele comer ou, no caso de gatos bonzinhos e bonitos, se for roubado. Meus gatos não têm acesso à rua. Têm cinco anos, praticamente nunca saíram, são felizes e, se Deus quiser, daqui a uns quinze anos ainda vou falar deles com o verbo no presente.

Ainda gosto de (alguns) seres humanos. Mas às vezes eu sonho que Deus está me mandando fazer uma Arca para levar só os bichinhos para o reino da Ronrolândia.

Brincadeirinha, afinal, eu também sou humana. E me acho bem simpática na maioria das vezes :)

Abraços