terça-feira, 14 de abril de 2015

Sobre gatos e homens - o fim de uma colônia

Uma tarde triste começa com um telefonema horrível na hora do almoço, informando que a grande colônia de gatos em uma casa abandonada no centro da cidade foi, praticamente, exterminada. Sabe aquela ali, ao lado do Polo da Universidade, na rua da emissora de TV? Pois é, ela mesma.

Nosso choque inicial logo foi substituído por indignação, vontade de fazer justiça e, após visitar o local, por um desesperador banho de realidade perante a impotência diante da impunidade que todos sabemos, será a palavra chave de toda a situação. 

A Operação Gato de Rua estava castrando lá, com o apoio do CEPREAD. Já tínhamos capturado e castrado 9 animais e o plano era voltar no próximo fim de semana, para pegar mais alguns e, numa terceira vez, provavelmente, terminar o processo. E pronto, eles não se reproduziriam mais. 
A tendência de uma colônia na qual todos os gatos são castrados, é diminuir. Muitos, por não terem mais a necessidade de marcar território, acabam se mudando. Ou morrem, naturalmente, após algum tempo. Gato de rua, infelizmente, não tem muita perspectiva de vida longa. E, como se não bastasse todos os atropelamentos inevitáveis, as doenças não curadas, perseguições, espancamentos, sofrimento de fome e frio, ainda têm que enfrentar o pior de seus inimigos: o ser humano vizinho, minúsculo e subdesenvolvido, incapaz de se compadecer da situação de quem pode e tem menos.Que anda com duas pernas e, só por isso, se sente superior. Inteligência sem amor vira crueldade.

Parte dos quase 30 gatos - R.I.P.- queridos inocentes

OGR - orgulhosa da captura bem sucedida e Juliana do CEPREAD


Conversando com os alimentadores, soubemos que até uma semana atrás ainda estavam os trinta gatos ali, onde, agora, encontram-se apenas CINCO. Cansados de esperar que "alguém" desse um jeito, a vizinhança resolveu agir por conta própria, da pior e mais cruel maneira possível. E ver a varanda, antes cheia de orelhinhas pontudas e bigodes, agora vazia, nos fez chorar.

:( - só restam cinco e uma varanda cheia de espaço


Blumenau tem um índice de envenenamento de animais tão grande como nunca vi.  E olha que já morei em vários lugares do Brasil. Nada oficial, mas nunca me deparei com tanta crueldade em nenhum desses lugares. Muitas pessoas intolerantes, impacientes, soberbas e inertes, que esperam que alguém resolva seus problemas, na hora em que querem. E o pior? São pessoas que têm filhos, que se reproduzem e propagam seus genes podres; que lidam com seres humanos, vão à igreja toda semana. Fazer o quê? Porque Deus vê o nosso coração, não adianta ir lá posar de santo. Por que não castraram quando eram poucos? Por que não chamaram alguém quando eram dois ou três? Porque tinha que ser alguém, não eles. 

O que mais nos dói é saber que os criminosos não vão sofrer nada, ficarão ali, matando tantos gatos quantos lhes atravessarem o caminho, porque, afinal, alguém tem que fazer alguma coisa. Obviamente os corpinhos mortos foram removidos, para que provas fossem eliminadas. E é por isso que os filhos de queridas mães ficarão impunes. Não temos fotos, vídeos, nada que prove o massacre. Mesmo assim, vamos mostrar para essas pessoas que estamos de olho. Vamos nos reunir com faixas, buzinas, barulho, TV na frente da casa onde ficava a colônia, pra chamar a atenção e deixar essa gente, pelo menos, constrangida.

E, urgentemente, exigir que a lei que aumenta a punição para quem é cruel com animais, seja aprovada. Isso tem que acabar,não dá mais pra suportar. 

Esse post é um convite a você, que se solidariza com os pobre gatinhos assassinados e tantos outros que ainda serão vítimas desses abomináveis. Vem com a gente, fazer barulho e tentar por um pouco de vergonha na cara lavada desses idiotas que não perdem por esperar.

Por que a justiça brasileira é bem falha, mas, a de Deus, é infalível.

Vem, gente!!!

Um abraço de coração partido
Todo mundo da Operação Gato de Rua




quarta-feira, 8 de abril de 2015

Uma captura 100%

Nem sempre uma captura dá certo, o gato não aparece ou o gato aparece e não entra na gatoeira ou ainda o gato aparece, entra, mas consegue escapar! Isso é muito frustrante! Não só pelo tempo gasto, mas principalmente por saber que o gata ou a gato pode engravidar ou procriar. E evitar o nascimento de gatinhos sem dono é a nossa missão.  

Uma boa captura depende de duas coisas essenciais: interromper a alimentação no dia da captura e evitar ao máximo que o gato nos veja no momento da captura. Gatos são muito espertos, eles sabem que a nossa presença ali no local deles significa algo diferente. Pelo menos os gatos adultos, pois os filhotes são muito curiosos e até certo ponto inocentes e são os primeiros a investigar aquela comidinha diferente dentro da gatoeira. Mas geralmente não são eles que nós queremos, e sim suas mamães e papais. E ai a espera pode ser longa ou mesmo infrutífera. 

Uma captura perfeita é muito raro! Mas acontece. 

Blumenau, centro da cidade, dia 24 de março de 2015. Fomos preparadas para mais uma captura. A anterior havia sido em vão, a mamãe gata não cooperou e acabamos voltando de gatoeira vazia. 

O ânimo não estava dos melhores, mas mesmo assim foram passadas as mesmas recomendações para a protetora. 

Vimos um bom sinal assim que chegamos ao local: um bilhete pedindo para as alimentadoras não colocarem comida neste dia! E realmente não havia comida lá.  

Outro bom sinal: um gato cinza se aproximou de nós, se deixou acariciar e até brincou conosco. A protetora explicou que ele era manso, poderíamos pegar ele com a mão e colocar na caixinha de transporte. Fácil assim. Um gato muito querido e com certeza não era um gato feral. Esse gatinho teve um lar, era acostumado com pessoas. Porque estava na rua? Fugiu, foi abandonado?  Nunca saberemos.

O passo seguinte foi tentar a captura do gato mais arisco, um tigrado. Em pouco tempo ele apareceu, atraído pelo cheiro e barulho da ração.

A gatoeria foi colocada de um jeito que ficava perto dele e ao mesmo tempo permitia que ficássemos fora da visão dele. Mas havia a preocupação de que ele novamente não entrasse (essa era a segunda tentativa de captura). Um pouco de sachê na gatoeira e começou a espera... 

Algumas pessoas passaram pelo local, uma mulher com sua filha, perguntou receosa se levaríamos os gatos embora. Explicamos a ela o que estávamos fazendo, e ela comentou que havia dado um nome ao gato cinza (Socks, pois as patinhas são branquinhas nas extremidades, parecendo meias). 
Apenas pensei comigo mesma "mamãe, sua linda, você está dando um exemplo maravilhoso pra sua filhinha, não são apenas palavras que educam, mas principalmente nossas ações, nossos exemplos").  

Fui apresentada a outra alimentadora da colônia que passava por ali, e cheguei a conclusão que existe uma grande rede invisível de pessoas do bem que se preocupam, doam um pouco de seu tempo e dinheiro para a causa animal. O que seria deles sem essa grande rede?

Nesse meio tempo, o melhor aconteceu: o tigrado desceu até a calçada onde estava a gatoeira, atraído pelo cheiro da comida, andou ao seu redor, farejou,  entrou e zaaaaapp, gatoeira fechada!   

Dois gatos encaminhados para a veterinária!  

Mas o melhor da captura ainda não havia acontecido. O melhor da história ficou para o final.

A protetora da colônia procurou e encontrou uma nova mamãe para o gato cinza. O Socks recebeu até um novo nome! A adotante achou engraçado a pontinha da orelha esquerda cortada (prática comum para marcar o gato esterilizado) e batizou ele de Van Gogh. Talvez com o tempo ele seja chamado apenas de Vincent! 


E mais, o gato tigrado ficou com a sua protetora que já havia adotado um gato preto e machucado da mesma colônia, portanto, o tigrado e o preto já se conheciam e agora estão morando juntinhos numa casa amorosa e protegidos de todo o mal que estão sujeitos na rua! Que lindo gesto. 

Essa captura foi a mais recompensadora de todas, pelo final feliz dos dois meninos capturados e adotados! 

Quiçá todas pudessem ter um final feliz!