segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Pães, peixes e um feliz ano novo

Dia desses eu doei 15 cm do meu cabelo para o projeto @rapunzelsolidaria. Eles fazem perucas para pessoas com câncer, a partir de cabelos doados por outras pessoas. Tive que aguentar minha cabeleira de vassoura um tempão, louca pra cortar logo, mas como eles só aceitam doações com, no mínimo, 15 cm, esperei. Fui pra cabeleireira muito feliz, voltei descabelada e mais feliz ainda. Eu doo meu tempo para as capturas, mas fora isso, não posso doar nada: dinheiro, porque não tenho; sangue, medula e (acho que) órgãos, porque tive febre púrpura quando criança e doenças autoimunes nos riscam das listas de doadores. Fiquei arrasada, inclusive, o dia que soube que não doaria minha medula. Tinha o sonho secreto de poder, algum dia, salvar a vida de alguém. Então doei o cabelo e, do fundo do coração, espero que ele sirva para o propósito. Aí me perguntaram no trabalho se eu ia doar o cabelo e ouvi um: “mas é muito pouquinho” – porque era gente, uma merreca de cabelo, fininho, ralinho e, se comparado com as cabeleiras que estão na página do projeto, não daria pra nada. E eu fiquei um pouco triste com o comentário, não por minha doação ser pequena, mas pelo pensamento em si; fiquei triste pela pessoa. Imaginando que ela, talvez, por achar que é pouco, perca a chance de ajudar muito.
Aí, fui fazer uma apresentação da Operação Gato de Rua num evento de gatinhos de raça quando, ao falar de nossos números, percebi que não progredimos tanto quando eu gostaria no último ano. Queria ter chegado a, pelo menos, 500 gatos castrados em 2015. Mas, com muito suor e muito custo, conseguimos 329. Não é muito, se comparamos com os mais de mil de outros projetos semelhantes. Fiquei meio envergonhada de ter um número tão baixo se comparado aos dos outros. Porque eu estava comparando. Senti a vergonha que não senti quando doei o pouquinho de cabelo. E fiquei matutando o quão esquisitos somos nós, seres humanos, que, numa mesma semana, sentimos orgulho de uma merreca e vergonha de outra.
Então me lembrei da história daquele garoto que, sem vergonha nenhuma, ofereceu seus cinco pães e dois peixes à multidão faminta. Ofereceu com amor. E seus pães e peixes alimentaram a multidão e, deles, ainda sobraram doze cestos cheios. (Pra quem não conhece a parábola, está na Bíblia, em Mateus 14:13-21; Marcos 6:31-44; Lucas 9:10-17 e João 6:5-15). Porque quando dois não têm nada, dois não têm nada. Mas, se um tem algo e o divide, os dois têm algo. A doação, seja de seu tempo, seu coração, seu dinheiro, suas palavras, seu colo, seu sorriso, suas roupas e sapatos que não têm mais serventia, seu alimento, de si mesmo é o que nos faz viver o amor. Porque amar é fazer o outro feliz.  E ficar feliz em ver o outro feliz.
As famigeradas redes sociais estão aí, nos lembrando, a cada dia das tantas crueldades do ser humano pelo mundo, mas, ao mesmo tempo, nos mostrando coisas lindas como a história do cão Cafu ( viu? https://www.facebook.com/Padaria-Borasca-460964320597701/?fref=ts); do Jubinha (viu também? http://www.olharanimal.org/solidariedade/9959-conheca-jubinha-o-cachorro-que-dormiu-no-colo-do-papai-noel-e-encantou-a-internet). Pãezinhos e peixinhos modestos, espalhados pelo mundo. Coisas simples, atitudes mínimas, que fazem grande diferença.
Dezembro é mês de abandono de animais em nossa região. É tempo de receber dezenas de telefonemas e mensagens com : “encontrei um gatinho ( cachorrinho )  mas não posso ficar, pra onde levo? “. E quero dizer que acolher um animal da rua não é tão difícil quanto se pensa. A não ser que você seja uma daquelas pessoas que já têm 20 (30, 18, 10) animais, porque pessoas acham que a responsabilidade é sua, mas não delas. Porque quando sobra pra um só, aí, sim, a coisa complica.
 Dezembro é tempo de se parar pra pensar nas atitudes de pessoas que se dizem do bem e, na época do nascimento do próprio Amor, jogam seus animais nas ruas, como se fossem lixo. É época de torcer para chegar logo o dia 18, pra gente poder tirar férias e fingir que esse tipo de problema não existe. E é época de pensar que, mais uma vez, chegou o fim do ano e eu não sei se melhorei como deveria. Porque eu sempre penso que preciso melhorar, mas só paro pra refletir na época do Natal e da Páscoa.
Então, pra encerrar um ano, que aparentemente, está judiando de todo mundo, quero resgatar, em primeiro lugar, no meu coração e, através deste post, em muitos outros, o mesmo sentimento do garoto dos pães. Porque a doação, com amor, do meu pouco, juntamente com a doação, com amor, do seu pouco, vai fazer, com amor um muito e esse muito pode mudar, se não o mundo, pelo menos a vida de alguém.
Desejo que nossos corações possam se abrir ao amor desinteressado. Que cada pessoa possa se dedicar a uma causa, seja ela qual for e se doe ao outro. Tenha esse outro duas ou quatro pernas (ou nenhuma, mas que respire e sinta, que seja vivo). Que possamos fazer em 2016, um pouquinho mais do que fizemos em 2015. Que todo mundo que me perguntou para onde levar o gatinho abandonado que encontrou, sinta-se imediatamente aberto a acolher e fazer sua parte, porque o problema é de todos nós e a solução também está nas mãos de todos nós. Porque se cada pessoa oferecer um cantinho e acolhimento até uma adoção responsável com castração feita, um dia, o abandono vai acabar. E, já que sonhar ainda não custa nada, desejo  que, um dia, eu possa fazer um post de “muito obrigada por tudo, mas precisamos encerrar as atividades da Operação Gato de Rua, porque não existem mais gatos sem lar na cidade de Blumenau”. Se todo mundo se unir, a gente chega lá.
Um feliz Natal a todo mundo. E que venha 2016, porque 2015 já deu.
Beijos no coração.

Maria Cecília Quideroli

Operação Gato de Rua

terça-feira, 14 de abril de 2015

Sobre gatos e homens - o fim de uma colônia

Uma tarde triste começa com um telefonema horrível na hora do almoço, informando que a grande colônia de gatos em uma casa abandonada no centro da cidade foi, praticamente, exterminada. Sabe aquela ali, ao lado do Polo da Universidade, na rua da emissora de TV? Pois é, ela mesma.

Nosso choque inicial logo foi substituído por indignação, vontade de fazer justiça e, após visitar o local, por um desesperador banho de realidade perante a impotência diante da impunidade que todos sabemos, será a palavra chave de toda a situação. 

A Operação Gato de Rua estava castrando lá, com o apoio do CEPREAD. Já tínhamos capturado e castrado 9 animais e o plano era voltar no próximo fim de semana, para pegar mais alguns e, numa terceira vez, provavelmente, terminar o processo. E pronto, eles não se reproduziriam mais. 
A tendência de uma colônia na qual todos os gatos são castrados, é diminuir. Muitos, por não terem mais a necessidade de marcar território, acabam se mudando. Ou morrem, naturalmente, após algum tempo. Gato de rua, infelizmente, não tem muita perspectiva de vida longa. E, como se não bastasse todos os atropelamentos inevitáveis, as doenças não curadas, perseguições, espancamentos, sofrimento de fome e frio, ainda têm que enfrentar o pior de seus inimigos: o ser humano vizinho, minúsculo e subdesenvolvido, incapaz de se compadecer da situação de quem pode e tem menos.Que anda com duas pernas e, só por isso, se sente superior. Inteligência sem amor vira crueldade.

Parte dos quase 30 gatos - R.I.P.- queridos inocentes

OGR - orgulhosa da captura bem sucedida e Juliana do CEPREAD


Conversando com os alimentadores, soubemos que até uma semana atrás ainda estavam os trinta gatos ali, onde, agora, encontram-se apenas CINCO. Cansados de esperar que "alguém" desse um jeito, a vizinhança resolveu agir por conta própria, da pior e mais cruel maneira possível. E ver a varanda, antes cheia de orelhinhas pontudas e bigodes, agora vazia, nos fez chorar.

:( - só restam cinco e uma varanda cheia de espaço


Blumenau tem um índice de envenenamento de animais tão grande como nunca vi.  E olha que já morei em vários lugares do Brasil. Nada oficial, mas nunca me deparei com tanta crueldade em nenhum desses lugares. Muitas pessoas intolerantes, impacientes, soberbas e inertes, que esperam que alguém resolva seus problemas, na hora em que querem. E o pior? São pessoas que têm filhos, que se reproduzem e propagam seus genes podres; que lidam com seres humanos, vão à igreja toda semana. Fazer o quê? Porque Deus vê o nosso coração, não adianta ir lá posar de santo. Por que não castraram quando eram poucos? Por que não chamaram alguém quando eram dois ou três? Porque tinha que ser alguém, não eles. 

O que mais nos dói é saber que os criminosos não vão sofrer nada, ficarão ali, matando tantos gatos quantos lhes atravessarem o caminho, porque, afinal, alguém tem que fazer alguma coisa. Obviamente os corpinhos mortos foram removidos, para que provas fossem eliminadas. E é por isso que os filhos de queridas mães ficarão impunes. Não temos fotos, vídeos, nada que prove o massacre. Mesmo assim, vamos mostrar para essas pessoas que estamos de olho. Vamos nos reunir com faixas, buzinas, barulho, TV na frente da casa onde ficava a colônia, pra chamar a atenção e deixar essa gente, pelo menos, constrangida.

E, urgentemente, exigir que a lei que aumenta a punição para quem é cruel com animais, seja aprovada. Isso tem que acabar,não dá mais pra suportar. 

Esse post é um convite a você, que se solidariza com os pobre gatinhos assassinados e tantos outros que ainda serão vítimas desses abomináveis. Vem com a gente, fazer barulho e tentar por um pouco de vergonha na cara lavada desses idiotas que não perdem por esperar.

Por que a justiça brasileira é bem falha, mas, a de Deus, é infalível.

Vem, gente!!!

Um abraço de coração partido
Todo mundo da Operação Gato de Rua




quarta-feira, 8 de abril de 2015

Uma captura 100%

Nem sempre uma captura dá certo, o gato não aparece ou o gato aparece e não entra na gatoeira ou ainda o gato aparece, entra, mas consegue escapar! Isso é muito frustrante! Não só pelo tempo gasto, mas principalmente por saber que o gata ou a gato pode engravidar ou procriar. E evitar o nascimento de gatinhos sem dono é a nossa missão.  

Uma boa captura depende de duas coisas essenciais: interromper a alimentação no dia da captura e evitar ao máximo que o gato nos veja no momento da captura. Gatos são muito espertos, eles sabem que a nossa presença ali no local deles significa algo diferente. Pelo menos os gatos adultos, pois os filhotes são muito curiosos e até certo ponto inocentes e são os primeiros a investigar aquela comidinha diferente dentro da gatoeira. Mas geralmente não são eles que nós queremos, e sim suas mamães e papais. E ai a espera pode ser longa ou mesmo infrutífera. 

Uma captura perfeita é muito raro! Mas acontece. 

Blumenau, centro da cidade, dia 24 de março de 2015. Fomos preparadas para mais uma captura. A anterior havia sido em vão, a mamãe gata não cooperou e acabamos voltando de gatoeira vazia. 

O ânimo não estava dos melhores, mas mesmo assim foram passadas as mesmas recomendações para a protetora. 

Vimos um bom sinal assim que chegamos ao local: um bilhete pedindo para as alimentadoras não colocarem comida neste dia! E realmente não havia comida lá.  

Outro bom sinal: um gato cinza se aproximou de nós, se deixou acariciar e até brincou conosco. A protetora explicou que ele era manso, poderíamos pegar ele com a mão e colocar na caixinha de transporte. Fácil assim. Um gato muito querido e com certeza não era um gato feral. Esse gatinho teve um lar, era acostumado com pessoas. Porque estava na rua? Fugiu, foi abandonado?  Nunca saberemos.

O passo seguinte foi tentar a captura do gato mais arisco, um tigrado. Em pouco tempo ele apareceu, atraído pelo cheiro e barulho da ração.

A gatoeria foi colocada de um jeito que ficava perto dele e ao mesmo tempo permitia que ficássemos fora da visão dele. Mas havia a preocupação de que ele novamente não entrasse (essa era a segunda tentativa de captura). Um pouco de sachê na gatoeira e começou a espera... 

Algumas pessoas passaram pelo local, uma mulher com sua filha, perguntou receosa se levaríamos os gatos embora. Explicamos a ela o que estávamos fazendo, e ela comentou que havia dado um nome ao gato cinza (Socks, pois as patinhas são branquinhas nas extremidades, parecendo meias). 
Apenas pensei comigo mesma "mamãe, sua linda, você está dando um exemplo maravilhoso pra sua filhinha, não são apenas palavras que educam, mas principalmente nossas ações, nossos exemplos").  

Fui apresentada a outra alimentadora da colônia que passava por ali, e cheguei a conclusão que existe uma grande rede invisível de pessoas do bem que se preocupam, doam um pouco de seu tempo e dinheiro para a causa animal. O que seria deles sem essa grande rede?

Nesse meio tempo, o melhor aconteceu: o tigrado desceu até a calçada onde estava a gatoeira, atraído pelo cheiro da comida, andou ao seu redor, farejou,  entrou e zaaaaapp, gatoeira fechada!   

Dois gatos encaminhados para a veterinária!  

Mas o melhor da captura ainda não havia acontecido. O melhor da história ficou para o final.

A protetora da colônia procurou e encontrou uma nova mamãe para o gato cinza. O Socks recebeu até um novo nome! A adotante achou engraçado a pontinha da orelha esquerda cortada (prática comum para marcar o gato esterilizado) e batizou ele de Van Gogh. Talvez com o tempo ele seja chamado apenas de Vincent! 


E mais, o gato tigrado ficou com a sua protetora que já havia adotado um gato preto e machucado da mesma colônia, portanto, o tigrado e o preto já se conheciam e agora estão morando juntinhos numa casa amorosa e protegidos de todo o mal que estão sujeitos na rua! Que lindo gesto. 

Essa captura foi a mais recompensadora de todas, pelo final feliz dos dois meninos capturados e adotados! 

Quiçá todas pudessem ter um final feliz! 





terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Tudo junto e reunido no combate ao abandono

Bom, povo meu.

Ultimamente tenho me revelado uma pessoa reclamona, que adora criticar. Era promessa pra 2013, 2014 e é pra 2015, mudar isso. Então, pra dar o primeiro passo, resolvi agir.

Tem um site no Facebook, que se chama Bluanimais Adoção, no qual pessoas de Blumenau, a princípio, anunciam seus animais para doação. Até aí, nada demais. Só que, sendo eu uma pessoa que procura combater que animais com tutores procriem por quaisquer que sejam os motivos dos mesmos, me dói no coração ver os anúncios de: "minha gata deu cria, não posso ficar com os filhotes", "quando minhas gatas têm filhotes elas passam por isso" (este último quase que me fez pular no telhado, sério. Como assim, minhaS gataS dão cria, assim, com tanta tranquilidade? Cadê sua responsabilidade, criatura?) - Aí fui lá e reclamei. Como isso só me torna um ser antipático, resolvi agir pra tentar aliviar minha barra.Falei com as outras pessoas da ONG e, como todos eles sabem o baile que só os gatos são capazes de nos dar, concordaram em tentar comigo.

Sendo assim, criamos uma página, também no face, chamada "Preciso castrar meus gatos, mas não tenho dinheiro" - https://www.facebook.com/querocastrarmeugato?fref=ts

Nosso objetivo com a página é cadastrar o máximo de pessoas possível para ter uma ideia de quanta gente ainda vive no obscuro mundo de gatinhas queridas, com donos, parindo sem parar. Acreditamos que a responsabilidade é de todos nós, de cada um de nós individualmente, que a solução para os problemas está também em nossas mãos. Não adianta reclamar que a prefeitura não faz nada, porque eles fazem o que podem; que os veterinários são caros, porque eles precisam pagar contas e impostos; que não dá tempo, porque quem ama, arranja um tempinho pra cuidar do gatinho; não adianta dizer que "demos vacina a vida inteira e nunca aconteceu nada com nossa gatinha" - porque o risco que ela está correndo é grande demais e não vale a pena. E a vida dela depende de você.

Então, como estava dizendo, vamos registrar os dados, contar de quantas castrações precisamos, procurar veterinários parceiros, fazer um evento, chamar e esperar a participação dos interessados,porque, de bandeja, não vem nada. Quem não ajudar, não será ajudado. A solução está nas mãos de cada um, não de poucos.

Ainda é só um esboço, um desejo. Mas, como somos pessoas de fé, acreditamos que tem muita gente boa por aqui que só não colabora por falta de oportunidade; que só continua deixando gatinhos fofos nascerem, mesmo não tendo como ficar com eles, por pura falta de informação, ou de grana mesmo. 

Então, esta página é pra você: que tem gatos e gatas, inteiros, que continuam procriando indiscriminadamente; você que não tem dinheiro pra levar a um bom veterinário; você, que acha que a injeção de anticoncepcional não faz mal pra sua gatinha; você que, além de tudo isso, deixa seus animais passearem livremente, sem se importar com quem eles vão andar por aí.

Faça sua parte: curta nossa página, ajude-nos a divulgar, ajude-nos a ajudar quem precisa e quer.



Grande abraço,

Maria Cecília Quideroli
Operação Gato de Rua